Aspiração

Ainda o meu canto dolente
e a minha tristeza
no Congo, na Geórgia, no Amazonas


Ainda
o meu sonho de batuque em noites de luar


ainda os meus braços
ainda os meus olhos
ainda os meus gritos


Ainda o dorso vergastado
o coração abandonado
a alma entregue à fé
ainda a dúvida


E sobre os meus cantos
os meus sonhos
os meus olhos
os meus gritos
sobre o meu mundo isolado
o tempo parado


Ainda o meu espírito
ainda o quissange
a marimba
a viola
o saxofone
ainda os meus ritmos de ritual orgíaco


Ainda a minha vida
oferecida à Vida
ainda o meu desejo


Ainda o meu sonho
o meu grito
o meu braço
a sustentar o meu Querer


E nas sanzalas
nas casas
no subúrbios das cidades
para lá das linhas
nos recantos escuros das casas ricas
onde os negros murmuram: ainda


O meu desejo
transformado em força
inspirando as consciências desesperadas.

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